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Thursday, April 15, 2010

Da tradição à verdade: A história de um padre (in Portuguese)

Da tradição à verdade

A história de um padre

Richard Bennett



Os primeiros anos

Nasci na Irlanda, em uma família de oito pessoas, e tive uma infância muito feliz. Meu pai era coronel do Exército Irlandês, até que se aposentou, quando eu tinha nove anos de idade. Como família, gostávamos muito de jogar, cantar e fazer apresentações, no campo militar, em Dublin.



Éramos uma família católica tipicamente irlandesa. Às vezes, meu pai se ajoelhava para rezar, com reverência, ao lado de sua cama. Minha mãe falava com Jesus, enquanto costurava, lavava louças ou mesmo fumava seu cigarro. Na maioria das noites, nos ajoelhávamos na sala de visitas para rezarmos, juntos, o rosário. Nenhum dos membros da família perdia uma missa aos domingos, a não ser que estivesse muito doente. Quando eu tinha cinco ou seis anos de idade, Jesus Cristo era uma pessoa muito real para mim, assim como o eram Maria e todos os santos. Posso entender com facilidade a atitude de outras pessoas tradicionalmente católicas, na Europa, bem como de hispânicos e filipinos, que colocam Jesus, Maria, José e todos os santos no mesmo caldeirão de fé.


Aprendi o catecismo na Escola Jesuíta de Belvedere, onde cursei o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Assim como todos os meninos que estudavam em escolas jesuítas, eu era capaz de citar, de memória, as cinco razões por que Deus existia e por que o papa era o cabeça da única igreja verdadeira; e isto, com apenas dez anos de idade. Livrar as almas do Purgatório era um assunto muito sério. As palavras que repetíamos com freqüência: “Rezar pelos mortos, a fim de que sejam libertos de seus pecados, é um pensamento santo e agradável”, eram decoradas mesmo que não soubéssemos o seu significado. Aprendíamos que o papa, como cabeça da igreja, era o homem mais importante na terra. O que ele dissesse se tornava lei, e os jesuítas eram seu braço direito. Embora a missa fosse celebrada em latim, tentava assisti-la todos os dias, porque me intrigava muito com o profundo senso de mistério que a cercava. Também aprendíamos que a missa era a forma mais importante de agradar a Deus. Éramos encorajados a rezar aos santos e tínhamos nossos padroeiros para os mais diversos aspectos da vida. Eu não praticava isso, com apenas uma exceção — Santo Antônio, o padroeiro dos objetos perdidos — visto que eu perdia muitas coisas.

Quando cheguei à idade de quatorze anos, senti um chamado para ser missionário. Este chamado, no entanto, não afetou a maneira como eu conduzia minha vida, naquela época. Entre os dezesseis e os dezoito anos, passei pelos momentos mais divertidos e satisfatórios que um jovem poderia ter. Durante esse período, estava indo muito bem tanto na escola quanto nos esportes.

Freqüentemente, eu tinha de levar minha mãe ao hospital, para tratamentos. Enquanto esperava por ela, encontrei um livro que citava os seguintes versículos do Evangelho de Marcos: “Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo por vir, a vida eterna” (Marcos 10.29-30). Não tendo a menor idéia da verdadeira mensagem de salvação, decidi que realmente havia sido chamado para ser um missionário.



Tentando ganhar a salvação

Deixei minha família e amigos em 1956, para ingressar na Ordem Dominicana. Passei oito anos estudando o que significava ser um frade, as tradições da igreja, filosofia, a teologia de São Tomás de Aquino e um pouco da Bíblia, sob o ponto de vista católico. Se eu tinha alguma fé pessoal, ela foi institucionalizada e ritualizada no sistema religioso dominicano. A obediência à lei tanto da igreja quanto da Ordem Dominicana era apresentada como meio de santificação. Freqüentemente, conversava com Ambrose Duffy, nosso Deão de Alunos, sobre a lei como o meio de alguém se tornar santo. Além de me tornar “santo”, também desejava ter a certeza de minha salvação. Decorei parte dos ensinos do papa Pio XII, nos quais ele disse: “A salvação de muitos depende das orações e sacrifícios do corpo místico de Cristo oferecidos com esta intenção”. A idéia de ganhar a salvação por meio do sofrimento e orações também é a mensagem básica de Fátima e Lourdes. Eu procurava ganhar minha própria salvação, assim como a de outros, por meio de tais sofrimentos e orações. No convento dominicano, em Tallaght (Dublin), realizei muitos sacrifícios a fim de ganhar almas, tais como: tomar banho gelado durante o inverno e açoitar as costas com uma pequena corrente de aço. O Deão dos Alunos sabia o que eu estava fazendo, e sua própria vida de austeridade era parte da inspiração que recebi das palavras de Pio XII. Com rigor e determinação, eu estudava, rezava, fazia penitências, tentava cumprir os Dez Mandamentos, bem como a imensa quantidade de regras e tradições dominicanas.

Ostentação exterior, vazio interior

Em 1963, com vinte e cinco anos, recebi a ordenação como padre católico romano. Em seguida, fui à Universidade Angelicum, em Roma, para terminar meus estudos sobre Tomás de Aquino. Mas ali tive dificuldades tanto com minha ostentação exterior quanto com meu vazio interior. Com o passar dos anos, eu havia formado, em minha mente, por meio de fotos e livros, imagens da Santa Sé e da Cidade Santa. Poderia esta ser a mesma cidade que eu havia imaginado? Na Universidade Angelicum fiquei chocado, ao saber que centenas daqueles que participavam de nossas aulas matinais pareciam completamente desinteressados por teologia. Percebi que muitos liam as revistas Time e Newsweek durante as aulas. E os mais interessados no que estava sendo ensinado se mostravam preocupados apenas com seu diploma ou posições na Igreja Católica, em sua terra natal.

Certo dia, fiz um passeio ao Coliseu, para que meus pés pisassem o solo onde o sangue de tantos cristãos havia sido derramado. Caminhei até à arena, no Fórum. Tentei formar, em minha mente, uma imagem daqueles homens e mulheres que conheciam tão bem a Cristo, que se dispuseram alegremente a serem queimados vivos ou devorados por animais selvagens, por causa do amor irresistível de Jesus. No entanto, a alegria desta experiência foi arruinada quando, ao voltar de ônibus, vários jovens me insultaram, gritando palavras que significavam “escória, lixo”. Senti que a motivação dos insultos deles não era o fato de que eu estava ao lado de Cristo, como os cristãos primitivos, e sim o fato de que viram em mim o sistema católico romano. Rapidamente, exclui de minha mente esse contraste; todavia, o que eu havia aprendido sobre as glórias presentes de Roma agora parecia irrelevante e vazio.

Uma noite, pouco depois daquele dia, rezei por duas horas em frente ao altar principal na Igreja de São Clemente. Lembrando-me do chamado missionário, recebido na juventude, e da promessa do cêntuplo, apresentada em Marcos 10.29-30, resolvi não terminar meus estudos para obter o diploma de teologia, que havia sido minha ambição, desde o início dos estudos da teologia de Tomás de Aquino. Esta era uma decisão muito importante, e, depois de muito tempo rezando, tive a certeza de que era a decisão correta.

O padre que supervisionaria minha tese não quis aceitar minha decisão. A fim de tornar as coisas mais fáceis, ele me ofereceu uma tese já pronta, escrita vários anos antes. Disse que eu poderia usá-la como se fosse minha e teria apenas de fazer a defesa oral. Isto me deixou irritado. Assemelhava-se ao que eu tinha visto, algumas semanas antes, em um parque da cidade: prostitutas elegantes desfilando pelas ruas, com suas botas pretas de couro. O que ele estava me oferecendo era igualmente pecaminoso. Mantive a decisão, concluindo os estudos universitários em nível acadêmico normal, sem qualquer título especial.

Ao voltar de Roma, recebi uma carta oficial designando-me a fazer um curso de três anos na Universidade Cork. Rezei sinceramente a respeito de meu chamado missionário. Para minha surpresa, no fim de agosto de 1964, recebi ordens para ir, como missionário, a Trinidad, na América Central.

Orgulho, queda e novo anseio

Em 1o de outubro de 1964, cheguei a Trinidad. Durante sete anos, fui um padre muito bem sucedido, nos termos romanos, cumprindo todas as minhas responsabilidades e trazendo grande número de pessoas à missa. Em 1972, estava bastante envolvido no movimento católico carismático. Em uma reunião de oração, no dia 16 de março daquele ano, agradeci ao Senhor por ser um padre tão bom e pedi-Lhe que, se fosse a sua vontade, me humilhasse, a fim de que me tornasse ainda melhor. Mais tarde, naquela mesma noite, sofri um estranho acidente, fraturando meu crânio e lesionando a espinha em muitos lugares. Se não tivesse chegado tão próximo da morte, duvido que algum dia eu teria saído do estado de auto-satisfação no qual me encontrava. As rezas rotineiras e pré-estabelecidas demonstraram sua inutilidade, quando clamei a Deus naquele momento de dor.

Com o sofrimento, nas semanas posteriores ao acidente, comecei a achar conforto nas orações pessoais e diretas. Parei de rezar o breviário (a reza oficial da Igreja Católica Romana para os clérigos) e o rosário; comecei a orar usando trechos da própria Bíblia. Foi um processo bastante lento, visto que eu não a conhecia. O pouco que eu havia aprendido sobre a Bíblia, em meus anos de estudo, me havia ensinado mais a desconfiar dela do que a confiar nela. Meu treinamento em filosofia e na teologia de Tomás de Aquino me deixou completamente desamparado, de modo que recorrer à Bíblia, para encontrar o Senhor, era como entrar em uma imensa floresta obscura, sem qualquer mapa.

Quando fui designado para uma nova paróquia, mais tarde naquele mesmo ano, descobri que trabalharia junto com um padre dominicano que havia sido um irmão para mim, ao longo dos anos. Trabalhamos juntos por mais de dois anos, buscando a Deus da melhor maneira que conhecíamos, na paróquia de Pointe-a-Pierre. Líamos, estudávamos, rezávamos e colocávamos em prática tudo o que havíamos aprendido no ensino da igreja. Edificamos comunidades em Gasparillo, Claxton Bay e Marabella, mencionando apenas as vilas mais importantes. No que se refere à religião católica, fomos bem-sucedidos. Muitas pessoas participavam da missa. O catecismo era ensinado em muitas escolas, incluindo escolas públicas. Continuei minha investigação pessoal na Bíblia, mas tal investigação não chegou a afetar muito o trabalho que realizávamos; pelo contrário, mostrou-me o quão pouco eu realmente conhecia o Senhor e sua Palavra. Nesta época, Filipenses 3.10 tornou-se o grande clamor de meu coração: “Para o conhecer, e o poder da sua ressurreição”.

O Movimento Católico Carismático estava crescendo muito naqueles dias, e o introduzimos na maioria de nossas vilas. Por causa desse movimento, alguns católicos do Canadá vieram a Trinidad para um tempo de comunhão conosco. Aprendi muito por intermédio da mensagem deles, especialmente o que se referia a rezas em favor de curas. O impacto total do que eles disseram foi muito orientado pela experiência, mas, apesar disso, foi realmente uma bênção, visto que me levou a examinar profundamente a Bíblia como fonte de autoridade. Comecei a comparar Escritura com Escritura e a citar capítulos e versículos! Um dos versículos que os canadenses utilizaram foi Isaías 53.5: “Pelas suas pisaduras fomos sarados”. Estudando este versículo, descobri que a Bíblia trata o problema do pecado por meio de substituição. Cristo morreu em meu lugar. Tentar ajudá-Lo ou cooperar com Ele para pagar o preço dos meus pecados era uma atitude errada. “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Romanos 11.6); “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos” (Isaías 53.6).

Um de meus pecados mais comuns era ficar irritado com as pessoas, às vezes, até com raiva. Embora suplicasse o perdão de meus pecados, ainda não havia compreendido que era um pecador por natureza, a qual todos herdamos de Adão. A verdade das Escrituras afirma: “Não há justo, nem um sequer” (Romanos 3.10); “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). A Igreja Católica, no entanto, me havia ensinado que a depravação do homem, chamada “pecado original”, fora lavada em meu batismo, na infância. Ainda guardava na mente esta crença, mas, no coração, sabia que minha natureza depravada não havia sido conquistada por Cristo. “Para o conhecer, e o poder da sua ressurreição” (Filipenses 3.10) continuava a ser o clamor de meu coração. Sabia que somente por meio do poder de Cristo eu poderia viver a vida cristã. Coloquei este versículo no painel do meu carro e em outros lugares. Ele se tornou a minha motivação; e o Senhor, que é fiel, começou a me responder.

A pergunta crucial

Primeiramente, descobri que a Bíblia, a Palavra de Deus, é absoluta e inerrante. No catolicismo, havia aprendido que a Palavra é relativa e que sua veracidade, em muitas áreas, deveria ser questionada. Agora, começava a entender que, na realidade, poderia confiar na Bíblia. Com a ajuda da Strong’s Concordance (Concordância Exaustiva de James Strong), comecei a estudar a Bíblia, para entender o que ela dizia a respeito de si mesma. Descobri o ensino claro de que ela vem de Deus, sendo absoluta em tudo o que diz. A Bíblia é verdadeira em suas histórias, nas promessas que Deus fez, nas profecias, nos mandamentos que ela nos dá e na maneira como devemos viver a vida cristã. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Timóteo 3.16-17).

Fiz esta descoberta quando visitava Vancouver (Colúmbia Britânica, no Canadá) e Seattle (nos Estados Unidos). Quando me pediram que falasse ao grupo de oração na Igreja Católica de Santo Estêvão, escolhi como assunto a absoluta autoridade da Palavra de Deus. Esta foi a primeira vez que entendi tal verdade ou falei a respeito dela. Retornei a Vancouver e numa imensa igreja paroquial, diante de 400 pessoas, preguei a mesma mensagem. Com a Bíblia em mãos, proclamei: “A autoridade final e absoluta em todas as questões morais e de fé é a Bíblia, a Palavra de Deus”.

Três dias depois, o arcebispo de Vancouver, James Carrey, me chamou ao seu escritório. Então, fui oficialmente silenciado e proibido de pregar em sua diocese. Disseram-me que minha punição só não seria mais severa por causa da carta de recomendação recebida de meu arcebispo, Anthony Pantin. Pouco depois, retornei a Trinidad.

Dilema – a igreja ou a Bíblia

Enquanto eu ainda era o padre paroquial de Point-a-Pierre, pediram a Ambrose Duffy que me assistisse; ele fora o Deão de Alunos que me ensinara com tanto rigor. A maré tinha virado. Após algumas dificuldades iniciais, acabamos nos tornando bons amigos. Compartilhava com ele o que estava descobrindo. Ele ouvia e comentava com grande interesse, desejando saber o que me motivava daquela maneira. Considerava-o um canal para alcançar meus irmãos dominicanos e mesmo aqueles da casa do arcebispo. Quando Ambrose Duffy morreu subitamente, de um ataque cardíaco, fiquei muito triste. Em minha mente, eu o via como aquele que seria capaz de mostrar-me algum significado no dilema entre a igreja e a Bíblia, com o qual eu lutava intensamente. Esperava que ele seria capaz de explicar para mim e os irmãos dominicanos as verdades com as quais eu lutava. Preguei em seu funeral; meu desespero era profundo.

Continuei a rezar, citando o texto de Filipenses 3.10: “Para o conhecer, e o poder da sua ressurreição”. Contudo, para aprender mais a respeito do Senhor Jesus, primeiramente tinha de reconhecer a mim mesmo como pecador. Com base nas Escrituras (1 Timóteo 2.5), vi que era incorreto o meu papel como mediador sacerdotal; isto era o que a Igreja Católica ensinava, porém era contrário ao que a Bíblia dizia. Eu realmente gostava de ser respeitado e, de certo modo, idolatrado pelas pessoas. Racionalizava meu pecado, argumentando que, afinal de contas, se isso era o que a maior igreja do mundo ensinava, quem era eu para questioná-la? Mas o conflito ainda permanecia em meu íntimo. Comecei a ver a adoração de Maria, dos santos e dos próprios padres como o pecado que tal adoração realmente é. Todavia, enquanto desejava renunciar Maria e os santos, como mediadores, não podia renunciar o sacerdócio, pois nele havia investido toda a minha vida.

Anos de conflito intenso

Maria, os santos e o sacerdócio eram apenas uma parte da luta gigantesca com a qual eu estava lidando. Quem era o Senhor da minha vida, Jesus Cristo e sua Palavra, ou a Igreja de Roma? Esta pergunta crucial me devastava por dentro, especialmente em meus últimos seis anos como padre paroquial de Sangre Grande (1979-1985). O fato de que a Igreja Católica tinha supremacia em todas as questões de moral e fé havia sido marcado em minha mente desde a infância. Qualquer mudança parecia impossível. A Igreja de Roma não era apenas suprema, mas também chamada a “Santa Madre Igreja”. Como eu poderia ir contra minha “Santa Madre Igreja”, sabendo que tinha participação oficial em ministrar seus sacramentos e manter as pessoas em fidelidade para com ela?

Em 1981, dediquei-me novamente ao serviço da Igreja de Roma, enquanto assistia a um seminário de renovação paroquial, em New Orleans. No entanto, quando retornei a Trinidad e envolvi-me novamente com os problemas da vida real, comecei a voltar-me à autoridade da Palavra de Deus. Finalmente, a tensão se tornou como um cabo-de-guerra em meu íntimo. Às vezes, eu considerava a Igreja de Roma como absoluta e, às vezes, reputava a Bíblia como autoridade final. Meu estômago sofreu terrivelmente nesses anos; minhas emoções estavam dilaceradas. Eu devia conhecer a verdade simples de que ninguém pode servir a dois senhores. Meu dever como sacerdote envolvia o colocar a absoluta autoridade da Palavra de Deus em sujeição à suprema autoridade da Igreja de Roma.

Esta contradição foi simbolizada pelo que fiz com quatro imagens da Igreja de Sangre Grande. Removi e destruí as imagens de São Francisco e São Martinho, por causa do Segundo Mandamento da Lei de Deus, declarado em Êxodos 20.4: “Não farás para ti imagem de escultura”. Mas, quando algumas pessoas contestaram a remoção das imagens do Sagrado Coração e de Maria, eu as deixei no seu lugar, porque a autoridade máxima, isto é, a Igreja Católica Romana, diz em sua lei, no Cânon 1188: “A prática de expor imagens sagradas nas igrejas para a veneração dos fiéis deve permanecer em vigor”. Não percebi que estava tornando a Palavra de Deus submissa à palavra do homem.

Minha própria culpa

Embora já houvesse aprendido que a Palavra de Deus é absoluta, ainda passava pela agonia de tentar manter a Igreja Católica Romana como que possuindo mais autoridade do que a Palavra de Deus, mesmo em assuntos nos quais a Igreja de Roma estava dizendo exatamente o oposto do que a Bíblia ensina. Como isto poderia acontecer? Primeiramente, era minha própria culpa. Se eu tivesse aceitado a autoridade da Bíblia como suprema, teria sido convencido pela Palavra de Deus a abandonar meu papel de sacerdote-mediador; todavia, essa posição era muito preciosa para mim. Em segundo, ninguém jamais havia questionado o que eu fazia como padre. Os cristãos de todo o mundo iam à missa, viam nossos óleos sagrados, nossa água-benta, medalhas, imagens, vestimentas, rituais e nunca questionavam nada! O estilo maravilhoso, o simbolismo, a música e o gosto artístico da Igreja de Roma eram totalmente cativantes. O incenso não apenas tinha aquele cheiro pungente, mas também refletia uma aparência de mistério à mente.

O momento decisivo

Certo dia, uma mulher me desafiou (a única pessoa cristã a me desafiar em todos os meus vinte e dois anos de sacerdócio): “Vocês, católicos romanos, têm esta aparência de religiosidade, mas negam o seu poder”. Aquelas palavras me incomodaram por algum tempo, porque eu apreciava muito as luzes, estandartes, música popular, violão e bateria. Talvez nenhum outro padre, em toda a ilha de Trinidad, tivesse roupas e estandartes mais coloridos do que os meus. Era evidente que eu não aplicava aquilo que entendia com tanta clareza.

Em outubro de 1985, a graça de Deus foi maior do que a mentira que eu tentava viver. Viajei até Barbados, a fim de rezar em favor do compromisso no qual eu me forçava a viver. Senti-me verdadeiramente preso em uma armadilha. A Palavra de Deus é realmente absoluta. Eu tinha de obedecer somente a ela; apesar disso, havia feito, diante do mesmo Deus, votos de obediência à autoridade suprema da Igreja Católica. Em Barbados, li um livro que explicava o significado bíblico da igreja como “a comunhão de crentes”. No Novo Testamento, não há qualquer alusão à hierarquia ou a um clero que é “senhor” sobre os “leigos”. Em vez disso, o próprio Senhor declarou: “Um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos” (Mateus 23.8).

Perceber e entender o significado da igreja como uma “comunhão” me deixou livre para abandonar a Igreja Católica Romana como minha autoridade suprema e depender somente de Jesus Cristo como Senhor. Comecei a perceber com clareza que, em termos bíblicos, os bispos que eu conhecia na Igreja Católica não eram crentes verdadeiros. A maioria deles era composta de homens piedosos dominados por devoção à Maria, ao rosário e a Roma; mas não possuíam qualquer idéia sobre a obra consumada de salvação; não sabiam que a obra de Cristo foi completa e que a salvação é pessoal e completa. Todos pregavam a penitência em favor dos pecados, sofrimento humano e obras religiosas, ou seja, “o caminho do homem”, em lugar do evangelho da graça. Mas pela graça de Deus entendi que não era por meio da Igreja de Roma ou de qualquer obra que alguém pode ser salvo. “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2.8-9).

O novo nascimento

Deixei a Igreja Católica quando compreendi que a vida em Jesus Cristo não seria possível, enquanto permanecesse fiel às doutrinas católicas. Ao deixar Trinidad, em novembro de 1985, viajei para Barbados. Permanecendo ali com um casal de idosos, orei para que o Senhor me provesse um terno e o dinheiro necessário para voltar ao Canadá, pois tinha apenas roupas adequadas a lugares tropicais e dinheiro insuficiente para a viagem. Ambos os pedidos foram respondidos sem que as necessidades se tornassem conhecidas por alguém, exceto pelo Senhor.

Vindo de uma temperatura tropical de 33o, aterrissei na neve e gelo do Canadá. Depois de um mês em Vancouver, fui para os Estados Unidos. Agora, confiava que o Senhor cuidaria de minhas inúmeras necessidades, visto que estava começando uma nova vida aos 48 anos de idade, praticamente sem dinheiro, sem um visto permanente de estrangeiro, sem licença para dirigir, sem qualquer tipo de recomendação. Tinha apenas o Senhor e sua Palavra.

Passei seis meses com um casal de crentes em uma fazenda no Estado de Washington. Expliquei-lhes que havia deixado a Igreja Católica, recebido a Jesus Cristo e sua Palavra, a Bíblia, como suficiente. Eu lhes disse que tinha feito isso de maneira “absoluta, final, definitiva e resoluta”. Embora estivessem longe de se impressionarem com estas quatro palavras, desejavam saber se havia alguma amargura ou ressentimento em meu coração. Orando e demonstrando grande compaixão, eles me auxiliaram, pois também haviam feito essa transição e sabiam o quão facilmente alguém poderia se tornar amargurado. Quatro dias após a chegada à casa deles, comecei, pela graça de Deus, a ver, em contrição, o fruto da salvação. Isto significava ser capaz não apenas de pedir perdão ao Senhor pelos muitos anos comprometedores, mas também de aceitar sua restauração onde eu havia sido tão profundamente machucado. Finalmente, aos 48 anos, somente com a autoridade da Palavra de Deus, e exclusivamente pela graça, aceitei a morte substitutiva de Cristo, na cruz. A Ele, toda a glória!

Depois de ser renovado tanto física quanto espiritualmente, por este casal de crentes, juntamente com sua família, recebi uma esposa do Senhor; ela se chama Lynn, também nascida de novo, de personalidade adorável e muito inteligente. Juntos viajamos para Atlanta, Estado da Geórgia, onde conseguimos emprego.

Verdadeiro missionário com verdadeira mensagem

Em setembro de 1988, saímos de Atlanta e seguimos como missionários para a Ásia. Foi um ano com grandes resultados no Senhor, mais do que eu jamais poderia imaginar. Homens e mulheres nos procuravam para conhecer a autoridade da Bíblia e o poder da morte e ressurreição de Cristo. Eu estava maravilhado com a facilidade com que a graça do Senhor pode ser eficaz, quando apenas a Bíblia é usada para apresentar Jesus Cristo. Isto contrastava com as muitas tradições da igreja que haviam obscurecido meus vinte e um anos de vida missionária em Trinidad, vinte e um anos sem a verdadeira mensagem.

Para explicar a vida abundante sobre a qual Jesus falou e da qual estou desfrutando, não há palavras melhores do que estas: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte” (Romanos 8.1-2). Não se trata apenas de haver sido libertado do sistema católico, mas principalmente de ter sido transformado em uma nova criatura, em Cristo. Foi pela graça de Deus, tão-somente por sua graça, que saí de obras mortas para uma nova vida.

Testemunho do evangelho da graça

Relembrando a ocasião em 1972, quando alguns crentes me falaram sobre a cura do Senhor em nosso corpo, penso quão mais útil teria sido se me tivessem falado sobre a autoridade que torna nossa natureza pecaminosa justa diante de Deus. A Bíblia mostra claramente que Jesus nos substituiu na cruz. Não posso expressá-lo de um modo melhor do que o fez Isaías: “Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Isaías 53.5). Estas palavras significam que Cristo tomou sobre Si o que eu tinha de sofrer por meus pecados. Diante do Pai, posso confiar em Jesus como meu substituto.

Estas palavras foram escritas 750 anos antes da crucificação de nosso Senhor. Pouco tempo depois do sacrifício na cruz, o apóstolo Pedro disse: “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados” (1 Pedro 2.24).

Visto que herdamos de Adão a nossa natureza pecaminosa, todos pecamos e carecemos da glória de Deus. Como podemos nos apresentar diante de um Deus Santo — a não ser em Cristo — e reconhecer que Ele morreu em nosso lugar? Deus nos outorga a fé para nascermos de novo, tornando possível o aceitarmos a Cristo como nosso substituto. Foi Cristo quem pagou o preço de nossos pecados: embora não tivesse pecado, Ele foi crucificado. Esta é a verdadeira mensagem do evangelho. A fé é suficiente? Sim, a fé do nascido de novo é suficiente. A fé, vinda de Deus, resultará em boas obras, incluindo o arrependimento: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2.10).

No arrependimento, jogamos fora, pelo poder de Deus, nosso estilo de vida anterior e os pecados que o acompanhavam. No entanto, isto não significa que nunca mais pecaremos; significa que nossa posição diante de Deus é outra. Somos chamados de filhos de Deus, porque realmente o somos. Se pecamos, ocorre em nosso relacionamento com o Pai um problema que pode ser resolvido, não o problema de perdermos nossa posição como filho de Deus, em Cristo, pois esta posição é imutável. A Bíblia declara isso de maneira maravilhosa: “Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas” (Hebreus 10.10). A obra perfeita de Jesus Cristo na cruz é suficiente e completa. Se você confiar somente nesta obra perfeita, terá uma nova vida nascida do Espírito — você nascerá de novo.

Na atualidade

No presente, a minha tarefa — a boa obra que o Senhor preparou — é a de um evangelista residente no Norte dos Estados Unidos, na costa do Pacífico. Aquilo que Paulo declarou sobre os judeus posso dizer a respeito dos queridos e amados católicos: o desejo de meu coração, bem como a minha súplica a Deus em favor deles, é que sejam salvos. Posso testificar a respeito deles que são zelosos para com Deus, mas seu zelo não está fundamentado na Palavra de Deus, e sim na tradição da igreja. Se você entender a devoção e a agonia de muitos de nossos queridos amigos católicos (nas Filipinas e na América do Sul) por sua religião, entenderá o clamor do meu coração: “Senhor, dá-nos compaixão para entender a dor e aflição da busca que nossos amigos católicos têm realizado para agradar-Te. Ao entender a aflição que existe no coração de muitos católicos, teremos o desejo de mostrar-lhes as boas-novas da obra perfeita de Cristo, na cruz”.

Meu testemunho demonstra a grande dificuldade que um católico encontra para abandonar a tradição da igreja, mas, quando o Senhor ordena isto em sua Palavra, temos de obedecer. A “aparência piedosa” que a Igreja Católica possui torna mais difícil para um católico ver onde está o verdadeiro problema. Todos precisam determinar por meio de que autoridade conhecemos a verdade. Roma diz que a verdade é conhecida apenas por meio de sua autoridade. Em suas palavras, Cânon 212, Seção 1: “O cristão fiel, consciente de sua própria responsabilidade, está obrigado, por obediência cristã, a seguir o que os pastores sagrados, como representantes de Cristo, declararem como professores da fé ou determinarem como líderes da Igreja” (Vaticano II, Código da Lei Canônica, promulgada pelo Papa João Paulo II, 1983). No entanto, de conformidade com o ensino da Bíblia, é a própria Palavra de Deus que tem de ser a autoridade pela qual a verdade se torna conhecida. Foram as tradições criadas por homens que levaram os reformadores a exigirem “somente a Bíblia, somente a fé, somente a graça, somente em Cristo e somente a Deus seja a glória”.

O motivo por que compartilho

Compartilho estas verdades agora com o propósito de que você conheça o caminho de Deus para a salvação. O erro básico dos católicos é acreditar que, por si mesmos, eles podem, de alguma maneira, responder à ajuda que Deus lhes dá para serem justos diante dEle. Esta pressuposição que muitos católicos têm alimentado por anos é definida no Catecismo da Igreja Católica (1994): “A graça é o auxílio que Deus nos concede para responder à nossa vocação de nos tornarmos seus filhos adotivos” (§ 2021).

Com esta maneira de pensar, nos prendemos, por ignorância, a um ensino condenado em toda a Bíblia. Essa definição de graça é uma invenção astuciosa do homem, pois a Bíblia declara consistentemente que o crente permanecer em retidão, diante de Deus, é outorgado “independente de obras” (Romanos 32.8), “não de obras” (Efésios 2.9); “é dom de Deus” (Efésios 2.8). Fazer com que as ações do crente sejam uma parte de sua salvação e considerar a graça como “uma ajuda” é negar abertamente a verdade bíblica. “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Romanos 11.6).

A mensagem simples da Bíblia é que “o dom da justiça”, em Jesus Cristo, é um dom que se fundamenta no sacrifício dEle, na cruz. “Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo.” (Romanos 5.17).

Isto corresponde às palavras do próprio Senhor Jesus, ao afirmar que morreria no lugar do crente — a sua vida seria dada em resgate por muitos (Marcos 10.45). Ele mesmo disse: “Isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados” (Mateus 26.28).

Esta mesma verdade também foi proclamada pelo apóstolo Pedro: “Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus” (1 Pedro 3.18).

A pregação do apóstolo Paulo se encontra resumida no final de 2 Coríntios 5.21: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”.

Querido leitor, Deus lhe apresenta esta verdade, com clareza, nas Escrituras. A aceitação desta verdade é ordenada por Ele: “Arrependei-vos e crede no evangelho” (Marcos 1.15).

O arrependimento mais difícil para os católicos incorrigíveis é mudar sua maneira de pensar caracterizada por “méritos”, “recompensa”, “ser bom o suficiente”, para aceitar, com mãos vazias, o dom da justiça em Cristo Jesus. Recusar-se a aceitar o que Deus ordena equivale ao pecado dos judeus religiosos da época de Paulo — “Desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus” (Romanos 10.3).

Arrependei-vos e crede no evangelho!

Richard Bennett


Richard Bennett é natural da Irlanda; retornou a este país em 1996, para uma viagem evangelística. Atualmente, vive em Austin (Texas), nos Estados Unidos.

Endereço na Internet:

http://www.bereanbeacon.org/index.php?link=portugues

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